28 de outubro de 2009

A UNANIMIDADE NA TRISTEZA

Por todo lado me dizem: "As livrarias não estão interessadas em Literatura, sobretudo, portuguesa. Não vende". Presumo que se refiram aos maiores pontos de venda (como agora se diz), mas ainda assim. Esta afirmação gera em toda os elementos de produção de um livro, uma onda de desânimo, de baixar os braços. Tornámo-nos dispensáveis, aqueles que interpretam o mundo com os pés assentes no torrão. Deixámos que a mediocridade dos bestsellers e dos livros de autoajuda pense por nós.
Gostava de saber o que o ministério da Cultura terá a dizer a esta situação. Mas, mais importante, o que pode esta grande maioria silenciosa fazer para resistir? Uma coisa é certa, cada dia será mais difícil, país afora, encontrar o trabalho de escritores portugueses. Até quando vamos ficar de braços caídos à espera que decidam por nó? Unanimente derrotados?

5 comentários:

svasconcelos disse...

No outro dia passei numa livraria e dei por mim a ter um pensamento semelhante ao descrito no teu post... os livros da polémica recente (caim/biblia) lá estavam, e os demais eram livros de autoajuda, sobretudo os de cariz de resolução sexual, e um bestseller , se não me engano, do Dan Brown... tudo produtos da publicidade, polémica ou não, e da crise de valores que a sociedade actual enfrenta. Soulução? De imediato desconheço qualquer que seja, mas a médio prazo uma política cultural em articulação com uma Educação mais estruturada e exigente, podiam reverter a situação...haja vontade política. Entretanto, "a maioria silenciosa" que não desista...

JV Nande disse...

O que a mim me deixa sempre um pouco pensativo é nunca saber bem quais são os limites. Por exemplo, se houvesse por aí um Chuck Palahniuk, ele seria visto como o quê: literário ou best-seller, morcão ou super-herói? O que acho estranho é isso, ou seja, é como se o mercado livreiro português não reconhecesse que o que vende é a identificação do autor com uma imagem ou, como diria se me quisesse armar ao pingarelho, a sua capacidade para representar um determinado corpo de valores para o mercado. Ao pegar em figuras televisivas (e, se necessário, em ghost writers e juntar tudo no caldeirão), está-se a transportar o conjunto de valores que eles representam televisivamente para o literário, onde, se de literatura a pessoa nada tem ou quer, vale o que vale durante uns tempos antes de se esgotar. Como se o que vendesse não fosse esse conjunto de valores, e não a pessoa. Com preguiça e falta de capacidade de investimento, prefere-se investimento rápido que rapidamente se cobre a construir um autor para o mercado e deixá-lo render até ao fim da vida...

O que fazer? Os escritores deviam pegar no seu espécime mais bem-apessoado, pagar-lhe workshops de apresentação de televisão, mexer cordelinhos e lobbies e esperar que se transforme numa estrela do éter, para, nesse momento, no pico mais pico da fama, ele abdicar de tudo em nome da escrita e assim criar um exemplo de mártir. Isso ou ataques terroristas. Um dos dois.

Daniel J. Skråmestø disse...

É mais fácil deixar de haver livrarias do que livros e escritores. Leitores haverá sempre (alguns mais hábeis do que outros a achar tesouros na lixeira).

diana vaz pedro disse...

dispensáveis?? nós, os leitores, estaremos sempre aqui, do outro lado, amordaçados talvez... tem que declarar mais dias nacionais do optimismo!!

dj rick disse...

A verdade é que as livrarias já nem encomendam livros de autores portugueses. Só por encomenda, dizem. Epa, mas era para oferecer amanhã a um amigo que faz anos... pronto, olhe, levo esse do salmão rudes, parece bom...
A solução podia passar por começar a espalhar o boato de que quem lê livros de autores portugueses tem maiores possibilidades de encontar e manter parceiros sexuais (como diz o vasconcelos), ou tem um lugar garantido no céu, ou coisa do género... Até alguém podia escrever um livro sobre isso, com um pseudónimo apelativo, tipo "MÁRIO DO BIG BROTHER", ou "CONDE PLÁSTICO".